sábado, 3 de dezembro de 2016

TRADUÇÃO DO TEMPO E DA VIDA: "A Chegada" (Arrival, 2016), de Denis Villeneuve

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If you could see your whole life ahead of you right now,
would you do anything differently?
- Louise Banks.

► Aviso ao leitor: a crítica abaixo contém revelações do enredo.

Como um cético apaixonado pela Ciência, sempre tive apreço pela ficção científica. Nesse sentido, "A Chegada", do diretor Denis Villeneuve, é um exemplo – infelizmente cada vez mais raro - de filme do gênero dotado de valor artístico. Eis uma película que, ouso dizê-lo em tom vaticinante, haverá de integrar o panteão das melhores ficções científicas já filmadas na história do cinema. Uma obra-prima instantânea.  

O canadense Denis Villeneuve já me havia impressionado com o excelente "Sicario: Terra de Ninguém", filme injustamente subestimado pelo grande público (não pelos críticos, que o aclamaram com toda a razão). Com "A Chegada", todavia, Villeneuve atinge o pináculo da sua habilidade técnica como diretor, a consagrar-se definitivamente como um dos maiores artistas da sua geração. Ele ainda conseguiu um feito insólito: produziu, em sequência, quatro filmes que foram aclamados pela crítica mundial: “Incêndios” (Incendies, 2010), “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013), “Os Suspeitos” (Prisoners, 2013) e o já citado "Sicario: Terra de Ninguém" (Sicario, EUA, 2015).

 Baseado no conto “História da sua vida”, de Ted Chiang, a trama de “A Chegada” desenvolve-se a partir do momento em que 12 “conchas” aterrissam, aparentemente de maneira aleatória, em diferentes pontos da Terra. São como deuses a chegar ao planeta, diante duma humanidade assustada simultaneamente pelo conflito de suas crendices e pela ameaça que decorre do medo de não saber o que pretendem os alienígenas. A desmensurabilidade das naves reforça a deificação atemorizante dos novos seres; criaturas desconhecidas, de tecnologia visivelmente mais avançada. O que se pode esperar deles? O que vieram fazer aqui? 

Para resolver esse impasse, o governo estadunidense convoca a Dra. Louise Banks (Amy Adams), tradutora e professora universitária especializada em linguística. Sua missão é traduzir os sons indecifráveis emitidos pelos alienígenas e saber, ao fim e ao cabo, o que estão a fazer em nosso planeta.      
 
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Amy Adams interpreta a Dra. Louise Banks, protagonista da trama.


Como se percebe, o filme parte duma premissa já bastante utilizada no cinema: o contato com seres extraterrestres. Seu mérito, entretanto, consiste em redimensionar essa aproximação por um prisma negligenciado nas abordagens anteriores: a dinâmica da linguagem. Não me recordo de nenhum filme sobre ETs que tenha posicionado a língua – e as dificuldades de sua tradução – qual o ápice da tensão na trama. E isso já torna a abordagem de “A Chegada” demasiado original.

Assim, o estudo da linguagem torna-se o mote de um enredo que tem como pano de fundo a desunião da humanidade e o caos que surge frente ao medo do desconhecido. Trata-se de consequência previsível num mundo em que as pessoas se alimentam de crendices em seres imaginários - onipotentes, onipresentes e oniscientes -, só existentes em suas próprias imaginações, como elo de força e subjugação. Como suportar a verdade dos fatos, proporcionada pelo fim da arrogância suprema que nos coloca no epicentro do Universo? Como lidar com a certeza de que não somos únicos, de que não somos especiais, de que não fomos criados à imagem e à semelhança de alguma força extraplanar superior? Como enfrentar a ideia de que somos vida biológica oriunda da combinação de fatores físico-químicos, em condições raras, jungidas ao acaso, sem nenhum propósito alvissareiro? Mais: como suportar a constatação de que a mesma vida que há na Terra existe alhures, a gerar seres possivelmente mais inteligentes, com sistemas morais próprios, com valores próprios, numa espiral infinita que não coaduna com nenhum dos vaticínios das centenas de sistemas religiosos, incoerentes de per si, existentes na cultura humana?
 

A resposta ao medo é o caos. Saques nas ruas, desordem, convulsão social. Sem embargo de os visitantes extraterrestres não esboçarem nenhuma tentativa de agressão, a humanidade prepara-se para um conflito bélico, que visa a dizimar aqueles falsos deuses que chegaram do espaço - ora o inferno particular duma humanidade acossada. O propósito do humano é a guerra, alicerçada num temor sempre crescente e clamante de força - a expressão de poder de quem deseja contra-arrestar uma virtual invasão cujo fim todos estão a ignorar. Eis a inferioridade intelectual do humano como espécie. Sua incapacidade de olhar o outro, de confiar no outro, de trabalhar em conjunto, enfim, pode conduzi-lo à ruína.
 
Outro grande trunfo do filme é mostrar como a nossa noção de tempo não é absoluta – ao menos, não pelo prisma da ciência. O tempo que nos é escasso, ante a vida que se esvai pelos anos em corpos a apodrecer permanentemente, talvez não seja lógico, nem se apresente a outros seres com a mesma linearidade cronológica. Como superar essas dificuldades inerentes a um primeiro contato com uma civilização alienígena inteligente? Como saber se a língua de que eles se valem conhece as mesmas estruturas sintáticas das línguas humanas? Como ter certeza de que, na língua extraterrena, uma “arma” é mesmo uma arma, na sua acepção bélica, ou é apenas uma ferramenta, ofertada como instrumento de ajuda, a lançar a base de uma aliança interplanetária?  
 
 
São respostas só passíveis de serem colhidas no território da linguagem. O desafio consiste em saber como as encontrar na língua criada por seres extraterrestres, completamente estranhos aos seres humanos, na aparência como no modo pessoal de articular um conjunto iconográfico de sentidos plausíveis.

Nesse passo, a língua é um umbral, a separar não apenas signos duma nova cultura, mas também formas distintas do próprio ato de pensar. Uma língua nova, como o idioma alienígena, é também uma porta nova, que se abre para um lugar da fala na qual o sujeito pensante não apenas precisará aprender uma dinâmica externa de estruturas morfológicas e sintáticas, mas repensar as premissas de sua própria existência, a revisar sua vida dentro de estruturas fluidas do tempo. A língua alienígena, ao mudar o modus operandi do pensamento, muda também a vida de quem está a dominá-la. Supre a fixidez das lembranças por formas fluidas, que se põem a confundir passado e presente, em meio a visões do futuro.    

Em “A Chegada”, a linguagem é o território onde o homem produz e se (re)produz. A adesão a uma forma nova de pensar precisará duma nova língua – o tesouro que os alienígenas querem entregar como produto dessa aliança. Somente um território de linguagem completamente novo pode permitir à humanidade vencer os vícios egoísticos que a consomem e desunem no plano global. Mas um território de linguagem completamente novo também pode servir para a recriação da própria vida, que, como em uma sucessão previsível de atos encadeados, pode ser revista, contanto que se esteja disposto a pagar o preço duma nova compreensão do tempo - a janela que se abre para o futuro duma nova humanidade.  

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O "spam" sertanejo universitário


Naquela tarde de 28 de outubro, ao sair do gabinete, vejo meu telefone vibrar sobre a mesa; ouço o barulho de um aviso, que me anuncia alguma novidade. Curioso, tomo em mãos meu telemóvel. Uma mensagem eletrônica de cunho propagandístico me fora enviada pela Livraria Saraiva. No título, leio um apelo: "Rafael, chegaram novidades e acreditamos que estes livros possam ser do seu interesse." Seria apenas mais um reles spam, entre as dezenas que recebo diariamente na minha caixa de mensagens no correio eletrônico, não fosse um pequeno detalhe: o seu conteúdo. Ao abrir o email, deparo-me com a propaganda seguinte: "Rafael, conheça a história brilhante do amado Luan Santana". Adiante, a foto da biografia que Ricardo Marques teve a pachorra de escrever sobre o ídolo do sertanejo universitário.

Acontece que, enquanto descia pelo elevado do prédio, de chofre, vi-me assaltado por uma crise existencial. E refletia ensimesmadamente: "Que será que fiz para que o spam da Livraria Saraiva pudesse supor que eu teria algum interesse na biografia de um cantor tão ruim?"

Insatisfeito, considerei-me injustiçado. Metido em brios, desejei reparar aquela ofensa involuntária, que me ultrajava eletronicamente após um dia cansativo na repartição.

Ponho-me, pois, a telefonar para um amigo. "Ele é cliente da mesma livraria, talvez possa me ajudar", pensei. O número tocava.
 
Uma voz atende do outro lado. Inicio a conversa em tom afobado:

- Tu recebeste algum email de spam da Saraiva?

- Não sei.

- Podes verificar, por favor?

- Por quê?

- Não importa. Apenas me dize se recebeste ou não.

Dali a instantes, veio a resposta redentora do meu brio:

- Sim, recebi.

- E do que se tratava?

- Ah, bobagem! Um anúncio idiota da biografia do Luan Santana. Ignorei. 

- Ok, muito obrigado.

- Mas o que tem isso de importante?

- Nada demais. Até mais.

E desliguei o telefone, não sem antes respirar aliviado. Percebi o que talvez parecesse óbvio desde o princípio ao leitor: o spam não me havia sido enviado por um robô trocista, desejoso de escarnecer o meu gosto musical. Cuidava-se, isto sim, de um plano genérico, que propagandeava o lançamento da biografia dedicada ao cantor, expoente do sertanejo universitário.

Pois bem. Aquele rápido telefonema foi o suficiente para trazer-me de volta à serenidade. Mas, cá com meus botões, ainda me sentia injuriado. Intimamente, queria vingança. Mandei então a mensagem, com a foto da capa do livro e do cantor biografado, para o setor mais ordinário do ambiente virtual: a lixeira eletrônica. Ao fazê-lo, senti que lavava minha alma artística, consciente do êxito do meu gesto vingador.

domingo, 2 de outubro de 2016

DECLARAÇÃO DE VOTO: BEETHOVEN PREFEITO!

Santinho da campanha de Beethoven para prefeito. Uma cortesia do meu Instagram.
Instagram: @rafaeltheodorteodoro

Cansado da mediocridade nas artes, na política e na vida em geral?

Já não aguenta mais ouvir falsas promessas dos candidatos eleição após eleição?

Então, dê uma chance a Beethoven.

Ele foi o filho de uma mãe tuberculosa que morreu cedo.

Ele venceu uma infância cheia de abusos por parte do seu pai alcoólatra - músico frustrado, medíocre e falido - que o espancava com frequência e obrigava-o a acordar de madrugada, desde muito pequeno, para estudar piano por horas e horas a fio.

Ele foi obrigado a abandonar a escola aos 13 anos, para trabalhar em diversos empregos e sustentar a casa, já que seu pai alcoólatra não conseguia mais emprego como músico em nenhum lugar.

Ele amava filosofia e literatura, especialmente a poesia dos grandes poetas alemães.   

Ele se rebelou e desprezou os nobres da corte do tempo.

Ele tinha ataques de fúria, seguidos de momentos de profunda solidão e depressão.

Ele nunca aceitou as convenções na sociedade ou na arte. Deixou sua vasta cabeleira crescer e opôs-se ferozmente a todos os seus professores de música quando estes o censuravam por usar harmonias que, para a teoria musical da época, eram consideradas erradas, inadmissíveis.

Ele rompeu a amizade com Goethe depois do incidente em Teplice, quando o poeta curvou-se docilmente e abriu caminho para os aristocratas que transitavam pela rua, coisa que Beethoven negou-se a fazer por ter repúdio absoluto a toda forma de presunção de superioridade nobiliárquica.

Ele se considerava o “Napoleão da música”, afirmando estar acima de qualquer crítica por escrever para o futuro (a história provou que ele estava certo na sua presunção).  

Ele abandonou sua simpatia de juventude por Napoleão depois que o líder militar francês se autodeclarou “Imperador da França”, tudo por considerar essa atitude napoleônica uma traição aos ideais revolucionários que defendiam a igualdade entre todos os cidadãos.

Ele rasgou a partitura da sua “Sinfonia nº 3”, a “Eroica”, que hoje é considerada a sinfonia mais importante de toda a história cultural da humanidade.

 Ele escreveu cartas de amor para uma mulher, a quem alcunhou de “minha amada imortal”, que até hoje nenhum historiador conseguiu identificar.

Ele soube se reinventar como compositor e maestro quando sua brilhante carreira como pianista-concertista nas cortes europeias foi encerrada precocemente diante da surdez progressiva que o acometeu.  

Ele escreveu boa parte das suas nove sinfonias quando já estava completamente surdo.

Ele escreveu 32 sonatas para piano que mudaram completamente a maneira de tocar e compor no instrumento.

Ele é considerado o “Shakespeare da música”, o “Michelangelo da composição”.

Ele foi o maior pianista não apenas do seu tempo; ele foi o maior pianista de todos os tempos.

Ele foi capaz de, surdo, reger suas sinfonias e arrancar aplausos arrebatados do público.

Ele revolucionou tudo o que fez na vida.

Só ele agora pode salvar a política da nossa cidade da mediocridade, da fealdade e da corrupção.

Vote em quem já provou que é capaz de revolucionar.

       Os outros candidatos até podem ser bons, mas só ele é gênio. Só a arte dele sobreviveu aos séculos. Só ele é verdadeiramente imortal.  

Vote em Ludwig van Beethoven!       

sábado, 1 de outubro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: Vladimir Horowitz toca "Polonesa em Lá bemol maior" (Op. 53), de Frédéric Chopin (1810-1849)

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No dia 01 de outubro de 1903, nascia na cidade de Kiev (Ucrânia) um dos maiores pianistas de todos os tempos e um dos meus artistas favoritos: Vladimir Horowitz.  
Para o leitor do blogue Metamorfose do Mal, cultor da arte erudita como eu, separei este excerto de um dos últimos concertos apresentados pelo mestre, a destacar a execução da "Polonesa em Lá bemol maior" (Op. 53) de Chopin - também conhecida em arte pelo cognome de "Polonesa Heroica". O ano era 1987. O palco: o Große Saal (também conhecido como goldener Saal) da Wiener Musikverein - uma sala de concertos da Áustria, celebérrima em toda a Europa pela perfeição da sua arquitetura sonora.
Reputo interessante este concerto. Ele está a revelar um artista gordo, já vetusto, debilitado pela decrepitude que decorre naturalmente do avanço da idade e das doenças que lhe são correlatas. Na data da realização desse concerto, Horowitz estava a contar 84 anos de vida.    
Apesar da idade avançada, é notável seu esforço ao longo de toda a apresentação em emular uma das características que o celebrizaram com um dos maiores mestres do piano: o domínio impecável, com uma precisão impressionante, da mecânica do instrumento.
Nessa toada, sempre que estou a assistir a esse concerto Horowitz, faço gosto de pensar que ele é uma espécie de ode involuntária ao talento artístico num grau supremo. Para um artista nesse nível de inteligência musical, nem mesmo a velhice - a pior das doenças, como reza o adágio dos antigos romanos - foi capaz de deter a potestade sonora das suas mãos.
Só a morte, que lhe atacaria de modo inexpugnável apenas dois anos depois desse derradeiro concerto na Áustria, deteve Horowitz. Ou nem isso. Ao fim e ao cabo, seu legado artístico é imorredouro. Imortal. 
 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Kéfera e a era do besteirol na internet


Ao sair do trabalho, caminho pela rua, nas mãos o telemóvel. Olho para a tela: um perfil de notícias que sigo no Twitter anuncia, sabe-se lá por que razão, que Kéfera atingiu 9 milhões de seguidores no sítio Youtube.

Impressionado com a marca, vi-me assaltado pela curiosidade em conhecer o trabalho da "youtuber". Ao fazê-lo, notei que alguns dos vídeos mais assistidos do canal "5inco Minutos" são os seguintes:

1) PEIDAR NO PRIMEIRO ENCONTRO?;

2) MEU C* ME DECEPCIONA;

3) CRATERAS NA BUNDA;

4) PUTA MERDA, TÔ ATRASADA!;

5) EU SOU MESMO PIRIGUETE;

6) O DIA QUE SENTI MUITO MEDO;

7) MEU MICROONDAS EM CHAMAS;

8) O QUE AS MULHERES PENSAM ENQUANTO SE MAQUIAM.

Entre todos, segundo apurei em pesquisa breve, o campeão de audiência no seu canal, com impressionantes 8 milhões e meio de visualizações, é o vídeo:

9) COM QUANTOS HOMENS JÁ TRANSEI.

Quase todos os vídeos são adeptos do humor apelativo. A "youtuber" está a "fazer rir" com referências explícitas a sexo, órgãos genitais, fluidos corporais, excrescências, odores desagradáveis e escatologias duma maneira geral. Kéfera fala palavrão como vírgula (às vezes, numa mesma oração, ela consegue colocar mais palavrões e gírias que ideias conexas) e insiste na frase de efeito "Chupa", à qual se segue a provocação insultuosa.

Pois bem. O que dizer desse conteúdo, senão que ele está a demonstrar, de maneira insofismável, a falência intelectual da nossa juventude/sociedade, que, inspirada em "youtubers" do quilate de uma Kéfera, estão a sofrer uma espécie de "lobotomia de cérebros". Trata-se dum procedimento que costumo alcunhar, em tom joco-sério, de "processo de neymarização", a homenagear o futebolista Neymar, que, no momento, é o símbolo-mor da ignorância e mediocridade intelectual da nossa sociedade, habituada a eleger seus ídolos na "pátria de chuteiras e sem livros".

 
No Brasil das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016, a cerimônia de abertura colocou em destaque, como representantes da "cultura" nacional, "artistas" como Wesley Safadão, Anitta e Ludmilla. Não surpreende, portanto, que  a "youtuber" Kéfera esteja a atrair tanta atenção. Já não é de hoje que produtos de péssima qualidade artística - apelativos, grotescos e descerebrados - estão a tomar o espaço de artistas talentosos na preferência do público. A inteligência jovem - que no passado aplaudia as canções politizadas e gramaticalmente geniais de um Chico Buarque - hoje está a contentar-se com músicas que falam de camarote, ostentação de riqueza, sexo com mulheres-objeto depois da balada e nádegas expostas em danças sensuais. Paralelamente, o gosto pelo humor escatológico do canal "5inco Minutos" cresce de modo exponencial, sobretudo entre os mais jovens. É a era do besteirol na internet.

Mas não sejamos pessimistas, meu caro leitor. Pensemos positivo. Na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, tivemos a escalação do trio de pseudocantores Anitta, Safadão e Ludmilla. Foi ruim? Sim. Foi horrível. Mas poderia ter sido pior. Muito pior. Apenas reflitamos: a organização do evento poderia ter chamado o funkeiro machista e homofóbico Biel para cantar. Poderiam ter deixado o discurso tedioso do pseudopresidente Temer durar mais que 10 segundos. Poderiam ter escolhido algum ex-BBB para carregar a tocha. Só numa coisa quero crer que foram absolutamente injustos: nesse mar de mediocridade intelectual, em plena era do besteirol generalizado na internet, faltou chamarem a Kéfera. Nove milhões de seguidores no Youtube não podem estar errados. Deve haver algo de bom no trabalho dela. Pena que ainda não consegui encontrar.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

O efeito hipnotizante das pernas de Kelsea Ballerini



Costumo dizer que um pesquisador de cultura erudita no Brasil tem a árdua obrigação de ser um poliglota. Tal necessidade imperiosa decorre do fato de que os jornais do nosso País não reservam espaço para a música erudita da mesma maneira que o fazem, de modo permanente, para a música popular, notadamente para o seu braço mercadológico mais rentável: a cultura pop.

Darei um exemplo ao leitor. Hoje, na Ilustrada, caderno de cultura de um dos maiores jornais do Brasil, a "Folha de São Paulo", há uma crítica sobre o show do grupo britânico de "rock coxinha dor-de-cotovelo" Coldplay. Não há, no entanto, nenhuma menção ao centenário do erudito Sviatoslav Richter, um dos maiores pianistas do século XX, que permanece vergonhosamente ignorado pela imprensa nacional supostamente dedicada à cultura. (Aqui cabe destacar que a página do blogue "Metamorfose do Mal" na rede social Facebook dedicou vários textos a enaltecer os muitos aspectos da relevância artística de Richter, mas, obviamente, sem absolutamente nenhuma repercussão).

Quando, milagrosamente, algum crítico de arte aparece a escrever sobre música erudita nos cadernos de cultura, o espaço conferido ao articulista é mínimo. Quase sempre motivado pela morte de algum artista famoso, esses textos prestam-se mais a servir de registro obsequioso de um obituarista do que a revelar uma preocupação, sincera e denodada, com a difusão da cultura erudita no País.

A impressão que tenho é a de que os jornais estão a desinteressar-se pela formação crítica do seu público. Cada vez mais, o leitor é tratado como um personagem estúpido, parido pela equação nefasta de educação de base deficiente, excesso de programas de televisão e baladas sertanejas de letras monossilábicas numa Faculdade qualquer de beira de esquina. Ao carpe diem de boteco desse leitor estereotípico, soma-se a virulência desrespeitosa, manifestada nos comentários, de português depauperado, cheio de referências deselegantes, que estamos a ver a miúdo em redes sociais e aplicativos de telemóveis.

Como um leitor desse, dono de uma formação intelectual nula, consumirá cultura erudita?   

Evidentemente, o leitor está a ser presumido imbecil. Sequer se lhe está a conferir o benefício da dúvida, o qual poderia, acaso, incentivar a redação de textos sobre música erudita nos cadernos de cultura. Mas o interesse dos jornais da nossa República não é instigar a intelectualidade do leitor estupidificado. Querem apenas dar aquilo que ele (o inculto) quer consumir, isto é, informações rápidas, superficiais e sobre os temas de sempre: violência policial, futebol e mulheres desnudas. Se o leitor faz gosto na consumição de lixo cultural, daremos a ele um lixão inteiro. Eis a lógica pela qual os jornais tentam, a duras penas, garantir uma vendagem mínima e sobreviver em um mercado no qual a tecnologia está a tornar, paulatinamente, o papel obsoleto. Lixo cultural, sexo e sangue: é o que vende; é o que o leitor quer; é o que vamos dar.

Diante desse triste panorama, só resta ao cultor da música erudita socorrer-se de jornais alienígenas. Nos Estados Unidos e na Europa, felizmente, ainda se está a reservar espaço nos jornais para a música erudita, mesmo diante do predomínio quase absoluto do gênero pop junto às massas. Nos cadernos de cultura do Brasil, por outro lado, esse prestígio permanente à música erudita - inclusive à música erudita brasileira - é praticamente inexistente.

E por que estou a escrever sobre isso?

Fi-lo por uma razão simples: quis justificar os motivos pelos quais, inda muito cedo, minha paixão pela cultura erudita guiou-me ao estudo de distintos idiomas estrangeiros. Ou aprendia a ler em línguas estranhas ao meu português nativo ou jamais atingiria um nível de conhecimento profundo sobre a música erudita que tanto amo e que é parte inapelável do meu ser-no-mundo.

Foi assim que, hoje, numa tarde de sexta-feira, a aproveitar-me do tempo livre no meu escritório, pus-me a ler os cadernos de cultura de alguns dos principais jornais da Europa e dos Estados Unidos. A toda evidência, estava a buscar informações sobre o cenário erudito europeu. Contudo, antes que pudesse concretizar o meu propósito, encontro nos jornais estadunidenses várias referências a um mesmo fato: o desastroso solo de guitarra de Nick Jonas em sua apresentação com a cantora Kelsea Ballerini durante a premiação da "Academy of Country Music Awards" neste ano de 2016.

Não obstante nunca tivesse ouvido falar de Kelsea Ballerini e Nick Jonas, fui tomado de assalto pela curiosidade. Não demorou e eu estava a assistir ao vídeo indicado do tão criticado solo de guitarra. Afinal, o crítico não pode ser empedernido. Muita vez, ao descer as escadas do salão mais nobre, pode-se achar algo interessante no porão.

De fato, o vídeo estava a revelar uma exibição desastrosa. Num determinado momento da canção, a cantora Kelsea Ballerini cede seu espaço; apresenta, então, o tal de Nick Jonas, que surge, triunfal, dos fundos do palco, a brilhar com seu solo de guitarra. Pelo menos era o que se tinha planejado. Mas o tiro saiu pela culatra. Não se viu brilhar a estrela de Jonas, senão a sua mediocridade absurda, a demonstrar um amadorismo técnico que, de tão grotesco, chega a ser risível. Notoriamente humilhado pelos erros que cometeu, ele salta, como um canguru, em direção à loira estonteante de vestido azul. Desejoso de recuperar a sua autoestima combalida, passa a tocar uns acordes quadrados. Vem a cereja do bolo: Nick começa a cantar. E, ao fazê-lo, consegue ser ainda mais desafinado que a guitarra que segura. Numa palavra: um desastre total.

Após ver o vídeo do solo de guitarra vexaminoso, pus-me a refletir sobre esse episódio. Com tristeza profunda, concluí que o nível de imbecilidade do público atingiu um estágio tão grande que a indústria cultural sequer se ocupa de fabricar ídolos pop com um mínimo de talento musical ou profissionalismo. Se Nick Jonas fosse um amador, poderíamos desculpá-lo pela sua falta de técnica. Mas, segundo apurei em rápida consulta ao Google, o jovem guitarrista é um profissional da música pop; ex-integrante dos Jonas Brothers - uma boy band de grande sucesso no ano de 2008, que produziu discos descartáveis, que duraram tempo suficiente para que suas fãs adolescentes histéricas crescessem e percebessem o quão vergonhoso era cultuar aquilo na idade adulta. Como um sujeito desses, que toca e canta tão mal, pode ocupar um papel de destaque na indústria cultural? Quantos outros músicos, infinitamente mais talentosos, estão desempregados, ao passo que um Nick Jonas está a receber milhões sem sequer ser capaz de executar um solinho de meia dúzia de notas? Como uma premiação importante da música country, mesmo para os padrões nada exigentes do mundo pop, admite tamanho amadorismo?

São perguntas de resposta difícil para o cultor da música erudita, acostumado à excelência técnica e extremo profissionalismo dos artista que admira em salas de concerto. Ou alguém acha que, no meio erudito, seria possível um músico profissional subir ao palco e tocar impunemente, de maneira errática, a "Sonata nº 29 em Si bemol maior" (Op. 106), de Beethoven? Até poderia fazê-lo, mas seu despreparo custar-lhe-ia sua reputação; uma carreira! Veria sua ruína, a sucumbir diante da "Große Sonate für das Hammerklavier" do genial compositor alemão.

Pois o solinho desastroso de Nick Jonas, para além da vergonha pessoal, já eternizada em diversas piadas pelos utentes zombeteiros da internet, está a demonstrar o quão baixo encontra-se o nível da música pop. Para ser celebridade na indústria do entretenimento de massas, não se está a cobrar um mínimo de talento. A mim me parece que sequer se está a exigir o profissionalismo mais básico por parte dos músicos, que me dão a impressão de que sobem ao palco e tocam de qualquer jeito para uma plateia imbecilizada e anestesiada, disposta a aplaudir acriticamente qualquer porcalhada que se faça.

Ou talvez eu esteja a ser demasiado exigente em um mundo onde a cultura mediocrizada venceu. Quem sabe, meu caro leitor, este escritor pudesse abandonar a sua ranhetice e dar um desconto ao Nick Jonas, não é mesmo? Ele é jovem. Ainda tem tempo de ir para a escola de música e aprender a tocar, de maneira decente, seu instrumento. Ou quem sabe eu viesse a valer-me da minha formação como advogado e fizesse, de modo jocoso, a defesa do jovem acusado perante o tribunal da crítica.

Nesse último caso, à acusação de amadorismo e antiprofissionalismo flagrantes de um músico que não se preparou a contento para tocar seu instrumento, eu oporia um argumento irrefutável, que eu chamaria no tribunal de "efeito hipnotizante das pernas da Kelsea Ballerini". Como alguém pode se concentrar nas notas musicais diante de tão belas pernas? Quem, ao subir ao palco e deparar-se com as pernas longilíneas de Kelsea Ballerini, não esqueceria as notas do seu solo de guitarra? Quem resistiria a uma rápida olhadela para a beldade loira e delgada? Quem seria capaz de condenar o coitado do Nick Jonas nessas circunstâncias tão adversas? Quem, Excelências? Quem? 

Modestamente, amigo leitor, diante do tribunal da crítica, a valer-me do argumento que designei de "efeito hipnotizante das pernas da Kelsea Ballerini", acho que Nick Jonas seria absolvido. É a única maneira que vislumbro para justificar o falhanço do rapaz. 


sábado, 27 de fevereiro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18), de Sergey Rachmaninov (1873-1943)


Estive a ouvir nesta manhã no meu escritório o lindíssimo "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18), de Sergey Vasilievich Rachmaninov (1873-1943). A composição, que data do outono de 1900, época em que o compositor russo principiou a escrever a partitura, é composta por três movimentos: moderato – a tempo com passione, adagio sostenuto – più animato e, finalmente, o allegro scherzando.   

É interessante observar que esse concerto tem a característica de explorar a técnica da modulação. Isto é, no plano da teoria musical, sua estrutura composicional é construída sobre mudanças de tonalidade, a modificar o campo harmônico ao longo do seu tríplice movimento. Assim, enquanto no moderato de abertura Rachmaninov fixa a tensão da expressão musical do tema principal quase que exclusivamente em Dó menor – com uma pequena variação para o Mi bemol maior, no adagio sostenuto essa transposição acentua-se. Porém, o compositor emprega-a de maneira paulatina, já que ouvimos no começo do segundo movimento uma série de acordes lentos ao piano, quando se dá a modulação do Dó menor, característico do moderato anterior, para o Mi maior que há de estabelecer o campo harmônico no qual se desenvolverá a melodia do adagio.


O compositor russo Sergey Rachmaninov (1873-1943)
Por fim, a modulação torna a ser invocada pelo compositor, já que o último movimento usa de um curto, porém agitado, introito orquestral introduzir a modulação da tonalidade de Mi maior, dominante no movimento anterior, para o Dó menor caracterizador deste allegro. Já perto do final deste derradeiro movimento, Rachmaninov lança mão outra vez da modulação, para encerrar o concerto, de maneira triunfal, no campo harmônico de Dó maior. 
 
O "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18) é, indubitavelmente, uma das peças da obra rachmaninoviana mais famosas. Seus temas, de indisputável pulcritude, elevaram-no ao posto – raro em raro visto na música orquestral – de concerto conhecido até mesmo pelo grande público, a acarretar a popularização do compositor russo (dentro do que é possível para o padrão da arte erudita, é claro).   

O maestro italiano Claudio Abbado (1933-2014)
 
Para o leitor do blogue Metamorfose do Mal, que deseje conhecer essa obra musical lindíssima, separei a sua execução pela Orquestra do Festival de Lucerna, gravado durante “A Noite Russa”, concerto dedicado a três grandes nomes da cultura erudita russa (Tchaikovsky, Stravinsky e Rachmaninov). O evento tomou lugar no Festival de Música de Lucerna (Suíça) no dia 22 de agosto de 2008.


A pianista francesa Hélène Grimaud (1969-)
Minha escolha desse registro é proposital. Em meio a muitas interpretações disponíveis, muita vez de qualidade inquestionável, optei pela gravação da Orquestra do Festival de Lucerna, pois dois artistas eruditos, aos quais estou a dedicar a miúdo atenção admiranda, fazem-se presentes no palco: de um lado, a talentosa pianista francesa Hélène Grimaud, que desenvolve brilhante carreira como concertista internacional; de outro, o saudoso maestro italiano Claudio Abbado – um dos maiores regentes do século XX, falecido no começo do ano de 2014.
 
Curiosamente, essa gravação pode ser vista como o registro de uma parceria artística luminal que soçobrou. Em 2011, sob a alegação de "diferenças artísticas" - um eufemismo para a disputa que a pianista e o maestro travaram quanto à cadenza do "Concerto para piano nº 23 em Lá maior", de Mozart -, Grimaud e Abbado anunciaram o cancelamento de uma série de concertos que deveriam protagonizar juntos naquele ano em festivais na Europa. Era o fim de uma bem sucedida parceria na música erudita, uma parceria que nos legou esta gravação na Suíça do "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18) - um dos pontos altos desse encontro entre Grimaud e Abbado, a entregar ao ouvinte arte da mais alta qualidade.     
 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: Alexey Sychev interpreta o "Estudo nº 3 em sol sustenido menor" ("La campanella"), de Franz Liszt (1811-1886)

 

No cenário erudito mundial, desde 2003, está a despontar o "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", realizado nas cidades-distrito alemãs de Weimar e Bayreuth, qual uma das principais competições internacionais para pianistas que ambicionam a carreira de concertista internacional.

A competição, que é organizada pela Universidade de Música Franz Liszt (Alemanha) e já está em sua oitava edição, consagrou em 2015 o talento do jovem pianista russo Alexey Sychev, acolhido pelo júri como o grande vencedor do concurso naquele ano.

Sychev é mais um virtuose educado no respeitadíssimo Conservatório Tchaikovsky de Moscou, que, em 2011, já tinha conseguido a façanha admirável de arrebatar os três primeiros lugares do certame com outros de seus discentes - Marina Yakhlakova, Sergey Sobolev e Ilya Kondratiev, que obtiveram, respectivamente, o 1º, 2º e 3º lugares na premiação.

Da esq. p/ dir.: Alexey Sychev, Dina Ivanova e Arseni Sadykov, consagrados, respectivamente, com os 1º, 2º e 3º lugares da 8ª edição do Concurso Internacional de Piano Franz Liszt
 
Elaborei esse brevíssimo introito sobre o "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", desejoso de compartilhar com o leitor um pouco da minha experiência como observador do cenário erudito mundial. Não raro, esse calendário de competições, que têm o predicado de notabilizar o talento de grandes artistas eruditos em ascensão, termina por passar absolutamente despercebido no Brasil, o que é uma pena para quem gosta de arte.

Dessa maneira, separei para o leitor do blogue Metamorfose do Mal um vídeo da apresentação que Alexey Sychev protagonizou na etapa derradeira do "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", oportunidade na qual interpretou o "Estudo nº 3 em sol sustenido menor" (S. 141), sob o andamento "Allegretto".
 
Essa é uma peça que Liszt compôs originalmente em 1838; depois, em 1851, o compositor húngaro revisou a partitura, ampliando-a, a partir do último movimento ("Rondo") do "Concerto nº 2 em Si menor", do violinista italiano Niccolò Paganini em 1826. Trata-se de melodia até razoavelmente conhecida pelo público leigo, muito difundida sob o seu epíteto composicional - "La Campanella".   
 

domingo, 10 de janeiro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: Duo Abreu toca "Três peças do segundo livro do cravo" de Jean-Philippe Rameau


Um dos momentos mais importantes da música erudita em todo o ano de 2015 foi a divulgação no sítio Youtube de registros inéditos do maior duo violonístico de todos os tempos: o Duo Abreu.

Formado pelos irmãos brasileiros Sérgio e Eduardo Abreu, o duo atingiu um patamar de excelência musical que até hoje, em minha opinião, ninguém conseguiu superar nessa formação. A extrema qualidade da obra musical deixada pelo dueto, a incluir os riquíssimos arranjos que elaboraram, contrasta com sua diminuta popularidade dentro do próprio País. É triste constatar, porém o Brasil tem o péssimo defeito de ignorar os seus talentos na música erudita.

Como o blogue Metamorfose do Mal, no entanto, segue a linha de defesa e divulgação da cultura erudita no Brasil e no resto do mundo, ser-me-ia impossível não recomendar ao leitor a audiência desta gravação raríssima do Duo Abreu, uma dupla de violonistas geniais que ainda se ressente de um tratamento discográfico digno, capaz de colocar em evidência uma vez mais a obra violonística portentosa que legaram para a cultura erudita mundial.

Como violonista, e particularmente estudioso do violão erudito, presto, assim, minha homenagem ao talentosíssimo Duo Abreu, a recomendar aos leitores do blogue a audiência desta belíssima gravação, que nos permite um pouco da técnica e musicalidade dos irmãos brasileiros aos interpretarem "Três peças do segundo livro do cravo" do compositor barroco francês Jean-Philippe Rameau.

Duo Abreu vive!