sábado, 27 de fevereiro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18), de Sergey Rachmaninov (1873-1943)


Estive a ouvir nesta manhã no meu escritório o lindíssimo "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18), de Sergey Vasilievich Rachmaninov (1873-1943). A composição, que data do outono de 1900, época em que o compositor russo principiou a escrever a partitura, é composta por três movimentos: moderato – a tempo com passione, adagio sostenuto – più animato e, finalmente, o allegro scherzando.   

É interessante observar que esse concerto tem a característica de explorar a técnica da modulação. Isto é, no plano da teoria musical, sua estrutura composicional é construída sobre mudanças de tonalidade, a modificar o campo harmônico ao longo do seu tríplice movimento. Assim, enquanto no moderato de abertura Rachmaninov fixa a tensão da expressão musical do tema principal quase que exclusivamente em Dó menor – com uma pequena variação para o Mi bemol maior, no adagio sostenuto essa transposição acentua-se. Porém, o compositor emprega-a de maneira paulatina, já que ouvimos no começo do segundo movimento uma série de acordes lentos ao piano, quando se dá a modulação do Dó menor, característico do moderato anterior, para o Mi maior que há de estabelecer o campo harmônico no qual se desenvolverá a melodia do adagio.


O compositor russo Sergey Rachmaninov (1873-1943)
Por fim, a modulação torna a ser invocada pelo compositor, já que o último movimento usa de um curto, porém agitado, introito orquestral introduzir a modulação da tonalidade de Mi maior, dominante no movimento anterior, para o Dó menor caracterizador deste allegro. Já perto do final deste derradeiro movimento, Rachmaninov lança mão outra vez da modulação, para encerrar o concerto, de maneira triunfal, no campo harmônico de Dó maior. 
 
O "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18) é, indubitavelmente, uma das peças da obra rachmaninoviana mais famosas. Seus temas, de indisputável pulcritude, elevaram-no ao posto – raro em raro visto na música orquestral – de concerto conhecido até mesmo pelo grande público, a acarretar a popularização do compositor russo (dentro do que é possível para o padrão da arte erudita, é claro).   

O maestro italiano Claudio Abbado (1933-2014)
 
Para o leitor do blogue Metamorfose do Mal, que deseje conhecer essa obra musical lindíssima, separei a sua execução pela Orquestra do Festival de Lucerna, gravado durante “A Noite Russa”, concerto dedicado a três grandes nomes da cultura erudita russa (Tchaikovsky, Stravinsky e Rachmaninov). O evento tomou lugar no Festival de Música de Lucerna (Suíça) no dia 22 de agosto de 2008.


A pianista francesa Hélène Grimaud (1969-)
Minha escolha desse registro é proposital. Em meio a muitas interpretações disponíveis, muita vez de qualidade inquestionável, optei pela gravação da Orquestra do Festival de Lucerna, pois dois artistas eruditos, aos quais estou a dedicar a miúdo atenção admiranda, fazem-se presentes no palco: de um lado, a talentosa pianista francesa Hélène Grimaud, que desenvolve brilhante carreira como concertista internacional; de outro, o saudoso maestro italiano Claudio Abbado – um dos maiores regentes do século XX, falecido no começo do ano de 2014.
 
Curiosamente, essa gravação pode ser vista como o registro de uma parceria artística luminal que soçobrou. Em 2011, sob a alegação de "diferenças artísticas" - um eufemismo para a disputa que a pianista e o maestro travaram quanto à cadenza do "Concerto para piano nº 23 em Lá maior", de Mozart -, Grimaud e Abbado anunciaram o cancelamento de uma série de concertos que deveriam protagonizar juntos naquele ano em festivais na Europa. Era o fim de uma bem sucedida parceria na música erudita, uma parceria que nos legou esta gravação na Suíça do "Concerto para piano nº 2 em Dó menor" (Op. 18) - um dos pontos altos desse encontro entre Grimaud e Abbado, a entregar ao ouvinte arte da mais alta qualidade.     
 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

MÚSICAS QUE RECOMENDO: Alexey Sychev interpreta o "Estudo nº 3 em sol sustenido menor" ("La campanella"), de Franz Liszt (1811-1886)

 

No cenário erudito mundial, desde 2003, está a despontar o "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", realizado nas cidades-distrito alemãs de Weimar e Bayreuth, qual uma das principais competições internacionais para pianistas que ambicionam a carreira de concertista internacional.

A competição, que é organizada pela Universidade de Música Franz Liszt (Alemanha) e já está em sua oitava edição, consagrou em 2015 o talento do jovem pianista russo Alexey Sychev, acolhido pelo júri como o grande vencedor do concurso naquele ano.

Sychev é mais um virtuose educado no respeitadíssimo Conservatório Tchaikovsky de Moscou, que, em 2011, já tinha conseguido a façanha admirável de arrebatar os três primeiros lugares do certame com outros de seus discentes - Marina Yakhlakova, Sergey Sobolev e Ilya Kondratiev, que obtiveram, respectivamente, o 1º, 2º e 3º lugares na premiação.

Da esq. p/ dir.: Alexey Sychev, Dina Ivanova e Arseni Sadykov, consagrados, respectivamente, com os 1º, 2º e 3º lugares da 8ª edição do Concurso Internacional de Piano Franz Liszt
 
Elaborei esse brevíssimo introito sobre o "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", desejoso de compartilhar com o leitor um pouco da minha experiência como observador do cenário erudito mundial. Não raro, esse calendário de competições, que têm o predicado de notabilizar o talento de grandes artistas eruditos em ascensão, termina por passar absolutamente despercebido no Brasil, o que é uma pena para quem gosta de arte.

Dessa maneira, separei para o leitor do blogue Metamorfose do Mal um vídeo da apresentação que Alexey Sychev protagonizou na etapa derradeira do "Concurso Internacional de Piano Franz Liszt", oportunidade na qual interpretou o "Estudo nº 3 em sol sustenido menor" (S. 141), sob o andamento "Allegretto".
 
Essa é uma peça que Liszt compôs originalmente em 1838; depois, em 1851, o compositor húngaro revisou a partitura, ampliando-a, a partir do último movimento ("Rondo") do "Concerto nº 2 em Si menor", do violinista italiano Niccolò Paganini em 1826. Trata-se de melodia até razoavelmente conhecida pelo público leigo, muito difundida sob o seu epíteto composicional - "La Campanella".