Já não é de hoje que alguns pastores evangélicos são
motivo de piada no Brasil. Tamanho é o descaramento com que vendem uma suposta “doutrina da
fé cristã” que fica difícil acreditar no que dizem. Interpretando os versículos bíblicos com a mesma diligência hermenêutica de um analfabeto que tenta ler javanês em braile, tais “líderes neopentecostais”,
donos de uma formação intelectual rasa, tornam-se autênticos “mercadores da fé”.
No fundo, são animadores de auditório carismáticos, a pastorear um rebanho sem escrúpulos, num oportunista "talk show do templo",
cujo fim indisfarçável é arrecadar o vil metal – o santo dízimo "em nome de Jesus".
Mas sejamos justos: o fim é declarado. Não há
quem vá a uma pregação dessas e não ouça o pastor enfatizar a necessidade de “doar
seu patrimônio a Deus”. Os que pregam a teologia da prosperidade são, assim, os
que mais anseiam tornar-se prósperos à custa do suor alheio. E haja saquinho
passando, haja dinheiro depositado na sacolhinha. Quem não paga é pecador e receberá aquela
pena a que estão todos condenados de antemão: o inferno. Digo condenados de
antemão porque são tantas igrejas, tanta variedade de doutrinas
neopentecostais, tantos os pastores que alardeiam exegeses bíblicas diferentes,
muitas das quais a atingir conclusões colidentes entre si, que, se fôssemos
apurar a lista dos pecados capitais de cada qual no mundo, é provável que não
restasse ninguém apto a ir para o "Reino dos Céus”. Na babel da hermenêutica bíblica, o
inferno está mais lotado de ímpios que ônibus no horário do rush na Central do Brasil.
Obviamente, todo esse ardor na exegese da Bíblia tem uma
justificativa mundana. Os mercadores da fé prestam um serviço que, no Brasil, é
altamente rentável. Protegidos pela imunidade tributária que a Constituição assegura
aos templos de qualquer culto, as entidades religiosas não pagam nenhum tipo de
imposto que venha a tributar seu patrimônio, sua renda e os serviços
relacionados com suas finalidades essenciais. E o Supremo Tribunal Federal, a mais alta
Corte de Justiça do País, responsável por dar a palavra final na interpretação do texto
constitucional, tem sido generoso na sua jurisprudência. Por mais de uma vez, já
decidiu que nem mesmo os cemitérios, lotes vagos e prédios comerciais pertencentes
a entidades religiosas podem ser tributados pelo Fisco. A consequência disso é
fácil perceber: em se tratando de entidade religiosa, a renda bruta que se
aufere é quase sempre líquida. Haverá cobrança de taxas e outros tributos, mas
impostos, como o de renda, têm sua exigência proibida. Por isso que no Brasil a
profissão de “mercador da fé” é tão rentável - o que entusiasma os picaretas de plantão.
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Maionese Hellmann's: o molho demoníaco com o qual Satanás pretende possuir a alma dos hot dogs do mundo inteiro. |
Ciente desse contexto, o leitor não deveria
se deixar surpreender com casos bizarros como o do pastor Valdemiro Santiago.
Noticiam os jornais que o “apóstolo”, um dos mais ricos mercadores da fé no
País, causou polêmica após proibir a compra e consumição de uma das mais
tradicionais marcas de maionese vendidas no Brasil. Segundo argumentou durante
o culto, o nome Hellmann’s, quando traduzido do inglês, significa “homem do
inferno”, a revelar as intenções satânicas do produto. "Precisamos
estar atentos, a tentação está em todo lugar, até na prateleira do
supermercado, e cada vez que você ouve esse nome a sua alma está sendo
condenada, e como o próprio nome da maionese diz, se você levar um vidro desse
pra sua casa, você é mais um homem no inferno", declarou ele. Não
satisfeito com a admoestação, o pastor ainda arrematou com esta pérola (sic): “Você
passaria o satanás no seu pão? Colocaria ele na sua salsicha ou comeria ele na
sua salada com a sua família?”.
Realmente, o pastor Valdemiro é merecedor do
Nobel de Química por esta descoberta. Como nunca ninguém se apercebeu de que
Richard Hellmann, o fundador da conhecida marca de maioneses, era a
reencarnação do anticristo? Quem diria! Nem Hitler nem as profecias de Nostradamus! O “filho do
demônio” era um alemão maldito, que veio a este mundo com um plano
megalomaníaco de possuir a alma das pessoas pela boca, a valer-se de uma receita
de maionese demoníaca. Que plano perfeito! Colocar satanás num sanduíche com a
salsicha e o pão! E vejam que afronta do belzebu: a maionese é passada no pão – o mesmo pão
que Jesus um dia repartiu entre os seus discípulos na Santa Ceia.
Talvez a interpretação do pastor Valdomiro,
escorada num trabalho de tradução primoroso, a demonstrar um conhecimento profundo
da língua inglesa, explique o porquê de o sabor da maionese Hellmann's ser tão
irresistível. Só pode ser coisa do demo um molho tão saboroso, que, com seu
elevadíssimo teor calórico, prenhe de gorduras, tantas dietas já vitimou. A
gula, como toda a gente o sabe, é pecado mortal.
Mas uma pergunta não quer calar: e o ketchup? É do diabo ou é de Deus? Pode
ou não pode passar no pão, pastor?
Eis aí, caro leitor, um novíssimo “mistério da fé”.
Da cura da AIDS ao Camaro vermelho
Ainda falando em pastores e seus feitos
notáveis, ainda esta semana causou estardalhaço nas redes sociais a veiculação
do trecho de um programa evangélico no qual a legenda na tela anunciava: “Curado
de tuberculose, tumor no cérebro e AIDS, Luís tinha apenas uma célula no corpo”.
Quando vi a imagem, de soslaio, compartilhada por alguém na minha timeline do Facebook, confesso
que pensei ter lido “...Luís tinha apenas uma cédula no bolso”. Será que tive
uma visão? Se assim for, a concretizar-se a cura de tantos males humanos (o
câncer, a tuberculose, até a AIDS!) em troca duma mísera cédula, creio que os
planos de saúde correm o risco de falir. No entanto, o mais provável é que essa
seja apenas mais uma das intermináveis histórias miraculosas que há de se incorporar
ao já conhecido anedotário dos mercadores da fé.
Contudo, devo dizer que, nesse baú involuntário da comédia stand up brasileira, praticada
frequentemente em templos, ora transformados em palcos dos "shows da fé", a minha anedota favorita
continua sendo a do pastor que exibe um Camaro vermelho como prova das
maravilhas que o Senhor pode fazer na vida de alguém. Depois que assisti a esse
vídeo, juro que orei várias vezes. Instigado pelo pastor, orei e pedi que o tempo de Jeová Jiré, o ano de
Elizeu, o ano da porção dobrada, viesse para minha vida. Infelizmente até hoje
continuo sem o meu “muscle car” vermelho e seu impressionante motor V8 com mais
de 400 cavalos de potência. Afinal Jesus não pode dirigir qualquer carro. Filho de Deus que é filho de Deus é playboy e roda num legítimo esportivo.
Olá meus caros! Segue um link de um artigo sobre a repercussão da morte do Gabo no meio televisivo, bem como um breve resumo sobre quem foi ele! Com sua permissão, caro RT!
ResponderExcluirhttp://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed795_gabo_segundo_o_jornal_da_globo