domingo, 7 de junho de 2015

HISTÓRIAS DA MÚSICA: O nascimento da "Sinfonia Eroica": ou Beethoven furioso contra o traidor Napoleão

O compositor alemão Ludwig van Beethoven em 1804.


Em 1803, com apenas 33 anos de idade, o jovem e impetuoso Ludwig van Beethoven começou a escrever a sua “Sinfonia nº 3, em Mi Bemol Maior” (Op. 55). Essa composição assinalava a assunção de uma temática grandiloquente, épica, em sua obra. Ademais, é apontada por muitos musicólogos como o umbral de passagem do Classicismo para o Romantismo na história universal da música.  

Tomado por uma fúria criativa, Beethoven finaliza a escrita da partitura da “Sinfonia nº 3” em 1804. Politizado, decidira alcunhá-la de “Sinfonia Bonaparte”. Seu propósito era homenagear o líder político e militar francês Napoleão Bonaparte (1769-1821), já que o compositor alemão era admirador fidedigno do ideário da Revolução Francesa. Para o jovem Beethoven, Napoleão não apenas erguia a bandeira do pensamento francês revolucionário; ele próprio personificava-a. Assim, no verão de 1804, comunicou ao seu editor a decisão de dedicar a sinfonia ao líder francês, intitulando-a de “Bonaparte”.

O líder político e militar francês Napoleão Bonaparte (1769-1821).
 
Entretanto, naquele mesmo ano, quando seu assistente contou-lhe que Napoleão havia se autoproclamado “Imperador da França”, o jovem Beethoven, que sempre teve um temperamento explosivo, mudou bruscamente de opinião. Sentindo-se traído politicamente, o compositor acusou Napoleão de trair os ideais revolucionários, rendendo-se ao jugo opressor dos tiranos que se consideravam superiores, que não acreditavam, portanto, na igualdade de direitos do homem e do cidadão.        

Furibundo, Beethoven vai até sua mesa de trabalho, convicto em desfazer a homenagem ao traidor. Abre o manuscrito da sinfonia e risca o nome “Bonaparte” da página-título. Mas risca com tanta raiva - com tanta força, com tanta fúria! - que, no lugar da dedicatória, deixa um buraco no papel.

Manuscrito da página-título da "Sinfonia Eroica",
onde se pode notar o buraco deixado no papel pela fúria de Beethoven
diante da "traição" de Napoleão Bonaparte.
 
Tempos depois, já em 1806, quando a página-título foi reescrita e o manuscrito sinfônico finalmente publicado, Beethoven deu novo nome à obra. Com efeito, intitulou-a de Sinfonia eroica, composta per festeggiare il sovvenire d'un grand'uomo. O título era uma alusão clara à decepção política experimentada pelo compositor, que não mais homenageava Napoleão Bonaparte, mas sim se prostrava a celebrar a “memória de um grande homem”. Napoleão ainda estava vivo na França, só não para Beethoven, que o considerava um traidor e antecipara visionariamente a marcha fúnebre do líder francês no segundo movimento da “Sinfonia nº 3” – agora denominada “Sinfonia Eroica”.
 
 

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