segunda-feira, 6 de maio de 2013

DANÇARINAS DAS SOMBRAS



Triste mesmo é noite de domingo. O anteâmbulo exato da segunda. O prenúncio da rotina do dia seguinte.

Triste não é recomeçar. Porque recomeçar é renascer. E a semana que renasce tem vida. A tristeza está no suplício de saber que um período termina no grito mudo noturno da voz que não se ouve, da pessoa amada que não se encontra, do desejo que se tem e não se realiza. Eis o tiro no escuro, as balas que ricocheteiam, os alvos que nunca são atingidos.  

Segunda tem o trabalho, a maldita da rotina. Sem graça, sem cor, pálida existência de um moribundo. Ergo-me e me arrasto. Sou alguém que suplica: "O acorde de um violão, uma xícara de café, algo que faça cessar este enfado!" Mas tudo o que recebo em troca é salário, cobrança, monotonia.

Eu me enterneço diante das fantasmagorias que dançam ao som da sinfonia da chuva que bate na janela do meu quarto. Ouço e nego a mim mesmo a audição desta música. Mas ela me conforta; traz a placidez de que necessito. O sossego que me acalma. A ilusão que me multiplica.

Pela janela do meu quarto descem essas gotas de chuva, numa espiral movediça, como dançarinas das sombras. E vão quebrando o silêncio, vão fartas, vão furtivas.

Em vão tentei acompanhar essa dança. Dancei nos pátios dos colégios, nas filas dos bancos, no patíbulo dos tribunais. Dancei sozinho.

Dancei até quando não pude mais dançar. Dancei até desistir. Preferi simplesmente fechar os olhos, sem explicações, sem motivos, sem justificativas. Apenas fechei os olhos e cri que ouvia a música derredor da qual circulavam aquelas pequeninas, dançarinas, bailarinas. Indo contra o vidro da janela, inundando o mundo num segundo secreto, no espasmo de um som molhado, gelado e surdo, tonitruante. Fechei os olhos e me concentrei naquela música, naquela doce sinfonia das gotas de chuva.

Contra a rotina, contra a segunda, contra toda a tristeza de uma noite de domingo.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário