No dia 29 de março deste ano, o Brasil assistiu ao término de mais uma
edição do reality show mais famoso do País: o Big Brother Brasil (BBB). A
décima segunda, para ser mais exato. Sinceramente, não sei quem foi o vencedor.
Também não importa. Em pouquíssimo tempo, a imagem dele desaparecerá e será
substituída por outro produto mais rentável aos cofres da Rede Globo.
Há tempos desejo escrever sobre o assunto, máxime inspirado pelo
excelente artigo “Cabeças vazias, corpos sarados e comportamentos patéticos”
(2012). Esperei que o programa terminasse e a “poeira baixasse” para escrever
sobre o tema, no entanto. Não quis parecer oportunista, buscando holofotes, ao
atacar um programa já destruído de todas as maneiras, ainda mais este ano, cuja
edição trouxe a polêmica - aparentemente não fabricada, mas conveniente ao
extremo pelo escândalo que proporcionou junto à opinião pública - da prática de
um suposto estupro envolvendo dois de seus participantes. Tampouco poderia furtar-me
ao debate, pois não me parece acertado ignorar a realidade circundante de que o
programa tem, sim, muita audiência – conquanto já haja sinais perceptíveis de
sua diminuição. Fingir que a TV trash não existe é condenar a crítica ao mundo
fantasioso e autofágico de sua própria intelectualidade. Por outras palavras, é
seu dever enfrentar aquilo que considera qualitativamente ruim. Afinal, nem
sempre frequentamos hotéis de luxo; às vezes, é preciso descer ao esgoto...
Reality show e a fórmula do mal
Ao contrário do que o leitor mais açodado possa ter presumido par a par
do que redigi acima, não sou contra reality
shows. Vejo, com muita desconfiança, as opiniões dos que advogam incisivamente
que a fórmula é a responsável pela mediocrização da TV brasileira. Na verdade,
o formato, se bem aproveitado, pode ser interessante, como sucede com os que
visam a apurar novos talentos musicais. Em tais casos, a despeito do uso comercial
que se faz desses participantes, é inegável que há pessoas com talento
artístico verdadeiro nessas disputas de espaço na mídia.
O problema, portanto, não é o reality show em si, mas a ausência do bom
senso. Vejamos o caso do BBB. Temos aqui um programa de televisão explorado da
maneira mais rentável possível: a invasão da intimidade, a apelo à sensualidade
do corpo feminino, o incentivo à autoflagelação, a exposição voluntária ao
ridículo, a celebração da estultícia humana em meio ao merchandising de grandes
marcas. É quase como se o telespectador brasileiro fosse um pornógrafo a
esperar a absolvição de seus próprios vícios reproduzidos na tela da TV de
maneira mais sofisticada do que ocorreria num filme pornô softcore. No fundo,
isso não deixa de ser verdade, pois, no BBB,
O que está em
jogo, mais do que o prêmio em dinheiro, é a relação de cada participante com
uma plateia que, embora absolutamente diversa, é relativamente previsível na
medida em que se encontra no canal de comunicação preferido da nação e
reconhece os símbolos e valores que ele veicula. (AZEREDO, 2012).
Colocado o assunto dessa maneira, o BBB deixa de ser um programa feito
para um público intelectualmente desqualificado e torna-se ponto de partida para reflexão sobre
a própria sociedade em que vivemos.
O caráter corroído e a ética da efemeridade: não há longo prazo?
O sociólogo estadunidense Richard Sennet, no seu livro “A Corrosão do
Caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” (2009),
investiga como a ética do mundo do trabalho capitalista moderno influencia a
ética individual. O objetivo de seu ensaio é demonstrar de que maneira as
relações de trabalho no capitalismo contemporâneo têm contribuído para o
desfazimento de laços sociais que pressupõem relações continuadas no tempo, no
longo prazo, a exemplo da confiança, da lealdade, do compromisso mútuo. Com
esse fim, toma por base a ideia de que
O termo
caráter concentra-se sobretudo no aspecto a longo prazo de nossa experiência
emocional. É expresso pela lealdade e o compromisso mútuo, pela busca de metas
a longo prazo, ou pela prática de adiar a satisfação em troca de um fim futuro.
Da confusão de sentimentos em que todos estamos em algum momento em particular,
procuramos salvar e manter alguns; esses sentimentos sustentáveis servirão a
nossos caracteres. Caráter são os traços
pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros
nos valorizem. (SENNET, 2009, p. 10, grifo meu).
O objetivo de seu ensaio sociológico é caracterizar a sociedade na
perspectiva do capitalismo que, ao flexibilizar as relações de trabalho, produz
uma ética própria às novas maneiras de organização do tempo. É quando o lema
“Não há longo prazo” toma força como diretriz ideológica do tempo do trabalho,
corroendo valores como lealdade, confiança, compromisso mútuo. Esse fenômeno
ultrapassa, no entanto, o mundo do labor e invade a esfera familiar, ensejando
a crise consistente em saber se a ética do capitalismo contemporâneo (volátil,
veloz, flexível), fundada numa cooperatividade superficial, constitui uma
blindagem mais eficaz para lidar com a sociedade que o comportamento que se baseia
em valores só cultiváveis em longo prazo, a exemplo da lealdade e da confiança (SENNETT,
2009, p. 25).
Diante disso, é possível identificar na sociedade capitalista uma ética
da efemeridade, do fugaz, do enaltecimento da adaptabilidade a qualquer meio
como virtude-mor do mundo do trabalho. É quando caem as hierarquias piramidais
e a sociedade passa a funcionar em rede – o que facilita sua permanente
decomposição ou recomposição.
Essa ética da efemeridade, que corrói o caráter na organização do tempo
do trabalho, corrói também o caráter das relações privadas da sociedade. A
indústria do entretenimento reflete e apropria-se desse movimento. É assim que a velocidade invade, por
exemplo, o cinema com seus blockbusters
que, não obstante durarem algumas horas, são filmados com a agilidade de um
videoclipe. Na televisão, o entretenimento toma, o mais das vezes, a forma de
um reality show, o ápice maior da
velocidade-superficialidade na conquista dos famigerados “15 minutos de fama”.
No BBB, o reality show que centraliza minha reflexão, não há caráter
justamente porque nada há de duradouro. Sequer a fama conquistada dura mais do
que o tempo necessário à exploração comercial da imagem pelos produtores do
programa. Os participantes sabem disso. Ingressam na disputa, a princípio,
motivados pelo prêmio milionário, mas, no decurso do “circo televisivo”, notam,
ainda que inconscientemente, a flexibilidade-velocidade dos julgamentos éticos
na “casa” onde estão confinados. Assim, surge uma nova liberdade moral, à
medida que cresce o consumo de álcool e o “medo” do ridículo é perdido. Tanto
mais factível se torna a certeza de que tudo o que ocorrer naqueles três meses
de programa não trará consequências de futuro. É o senso do instante, do
efêmero, afastando a confiança, a lealdade, dando azo ao que de pior há no ser
humano: a perfídia, a inveja, o fingimento de ser quem não se é só para
estar-com. Esses sentimentos aparecem plasmados em “comportamentos humanos
aceitáveis na esfera privada e patéticos quando transbordam para a esfera
pública” (ARAÚJO, 2012), que vão do coma alcoólico à ebulição hormonal adolescente
de tipo imoderada (daí as muitas vezes em que o programa escandalizou a
sociedade com a confessada prática de masturbação dos seus participantes). Surgem, nessa mesma
toada, os “namoros na Casa” – quando se torna ainda mais perceptível a
pornografia soft dos “filhos” da
classe média brasileira. E eis o zoológico humano!
Nenhum desses comportamentos é estranho ao telespectador. Seria
hipocrisia acreditar que as condutas ali reproduzidas não encontram respaldo na
sociedade. A diferença, repito, é de plano: o que é admissível na esfera
privada, quando transita para a esfera pública, toma a forma de “circo da
mediocridade humana”, incrementando o lixo televisivo cuja audiência cresce proporcionalmente
ao assassínio de leitores de bons livros.
A mediocridade humana como terapia
A razão de ser deste artigo não é criticar o BBB. Tal já se afigura, após tantos escândalos protagonizados pelas
personagens do programa, um lugar-comum da intelectualidade nacional, de tal
modo que há razões mais do que suficientes, já exaustivamente explicitadas,
para que o telespectador com um mínimo de inteligência deixe de assistir ao
programa.
Meu objetivo é diverso, mas não menos audacioso: extrair elementos
edificantes do trash televisivo. Em
outras palavras: é possível haver alimento saudável no lixo? Pode haver água
potável no esgoto? O BBB pode cumprir
uma função filosófica existencialista?
Consoante minhas observações, sim. Há uma função filosófica que escapa
aos olhos dos críticos do reality show,
mas cujo reconhecimento se impõe como medida de justeza. Refiro-me ao
experimento psicológico proporcionado pelo programa no sentido de uma autêntica
terapia contra a depressão intelectual.
De fato, aos que dedicam suas vidas aos mais distintos campos do
conhecimento humano, da filosofia ao direito, da literatura à matemática, da
astronomia à música, é inevitável em algum momento o sentimento de
inferioridade do seu intelecto. O filósofo, o cientista, o literato, o artista,
todos, em algum momento de suas vidas, com maior ou menor intensidade, haverão
de encontrar a si próprios - ensimesmadamente - presos aos grilhões da
depressão. É o temor da incapacidade de se igualar aos seus mestres, de gerar
grandes feitos. É um temor que assoma súbito e inexcedível, qual uma muralha
inquebrantável das narrativas fantásticas de Tolkien, e que leva mesmo o mais animado dos
espíritos a declinar de sua autoconfiança, do seu poder-ser próprio.
Essa sensação a que me reporto agudiza-se de maneira especialmente
pungente pela leitura de biografias. Como ignorar que Karl Marx escreveu boa
parte de sua obra filosófica revolucionária submetido à extrema pobreza? Que
dizer então de Machado de Assis? Quem poderia prever que o filho de uma
imigrante açoriana, que fazia rendados e bordados, e de um pintor de paredes e
móveis, haveria de se tornar o maior dos escritores brasileiros? Como ignorar que
o compositor alemão Ludwig van Beethoven, mesmo sofrendo de surdez progressiva,
foi capaz de escrever sinfonias? E Stephen Hawking, físico inglês, o gênio da
“fórmula da entropia”, que foi capaz de manter sua atividade científica, não
obstante a paralisia imposta pela esclerose que o acometeu? Ou que Jorge Luis Borges, após ficar cego, “escrevia” com a voz?
Esses são apenas alguns dentre tantos exemplos de feitos extraordinários
de seres humanos com os quais a comparação redunda, inevitavelmente, na
depressão intelectual. Quantos de nós, computadores em mão e sentados sobre cadeiras
confortáveis, seriam capazes de escrever “O Capital”? Quantos de nós,
tivéssemos nascido em famílias pauperizadas, não nos deixaríamos subjugar pelo
destino, sepultando eventual pendor literário que possuíssemos? Quantos,
incapacitados pela perda dos movimentos do corpo, seriam suficientemente
inteligentes para contribuir com cálculos de termodinâmica de buracos negros? E qual de nós, na plenitude da visão aquilina, seria capaz de produzir textos literários tão bonitos quanto aqueles do fecundo escritor argentino?
Tomados esses exemplos, a vida intelectual, com todos os desafios
proporcionados aos que se dedicam a construir conhecimento, torna-se fonte da
mais intensa depressão. É como um soco violento desferido por um adversário
invisível e que, por isso mesmo, não podemos enfrentar. No fundo, desde um
prisma heideggeriano, a depressão intelectual, sentida sob a forma de uma
angusta angústia no coração, traduz-se como um conflito da presença (o ente que
eu mesmo sempre sou) “imbricada tanto com o seu ser para o mundo da ocupação
quanto com o ser para consigo mesmo”. (HEIDEGGER, 2005, p. 174). O “medo” de
fracassar, a sensação de impotência diante do curso causal da vida, a
anonimidade da existência, a não contribuição com gestos de relevo para o
gênero humano, o transcurso do tempo na pequenez estéril da cotidianidade são, dessa
feita, alguns sintomas dessa angústia.
Em contrapartida, acaso esses sintomas tenham outro significado, seriam
manifestações espontâneas de que o ser começa a (re)conhecer sua co-presença no
mundo, encontrando-se com outros? Estar-se-ia a iniciar aí, ainda que
sub-repticiamente, a ruptura com a mundanidade – tomada como totalidade
referencial da significância?
O mundo libera não apenas o
manual enquanto ente que vem ao encontro do mundo, mas também pre-sença, os
outros em sua co-presença. Esse ente liberado no mundo circundante, no entanto,
de acordo com seu sentido mais próprio de ser, é um ser-em um mesmo mundo, em
que é co-presente, encontrando-se com outros. A mundanidade foi interpretada (§
18) como totalidade referencial da significância. Na familiaridade com ela,
dotada de compreensão prévia, a pre-sença deixa e faz vir ao encontro o manual
enquanto algo que se descobre em sua conjuntura. O contexto referencial da
significância se ancora no ser da pre-sença para o seu ser mais próprio, a
ponto de, essencialmente, não poder ter nenhuma conjuntura, sendo o ser em
função do qual a própria pre-sença é como é. (HEIDEGGER, 2005, p. 175).
Faz sentido, assim, a afirmação do filósofo alemão Martin Heidegger de
que a angústia é a sensação do nada – e, portanto, a abertura privilegiada da
presença.
A angústia – segundo
Heidegger – é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele
que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser e juntar os
pedaços a que é reduzido pela imersão na monotonia e na indiferenciação da vida
cotidiana. A angústia faria o homem levantar-se da traição cometida contra si
mesmo, quando se deixa dominar pelas mesquinharias do dia-a-dia, até o
autoconhecimento em sua dimensão mais profunda. (CHAUÍ, 2005, p. 8).
Talvez assista ainda razão à Arthur Kaufmann (1994), quando, refletindo sobre a filosofia da existência (Die Existenzphilosophie), pondera que
Das Bewuβtwerden dieser Grenzsituationen, das Gewahrewerden der eigenen Schwäche und Ohnmacht, drängt, wie Epiktet schon sagte, zur Stellungnahme, zur Frage nach dem Sinn des menschlichen Daseins. Alles kommt darauf an, wie sich der Mensch zu diesen Grenzsituationen stellt. Er kann die Augen davor verschlieβen, so tun, als wären sie nicht, und sich dann eines Tages faktisch von ihnen überwältigen lassen. (KAUFMANN, 1994).
Eis que surge, então, o filósofo Mário Sérgio Cortella (2007) e nos
pergunta em tom desafiador: qual é a tua obra?
Para esses momentos de depressão intelectual - angústia, para falar com
Heidegger - há um remédio infalível: o BBB.
Assistindo ao programa, mesmo o mais deprimido intelectual, filósofo, artista,
escritor, poeta, político, cientista ou qualquer outra função que o valha pode
curar seu sentimento de inferioridade, sua crise existencial, seu medo ante a
pequeneza da falibilidade humana. Basta observar que naquele programa estão pessoas,
na maioria das vezes, oriunda de lares aquinhoados, cujo suporte econômico familiar
lhes permitiu usufruir os bens de consumo da sociedade capitalista e... só. Os
participantes do programa consubstanciam o que há de pior na classe média/média
alta brasileira: a junção do corpo sarado com a cabeça vazia, reproduzindo
comportamentos patéticos. É quando a oportunidade do estudo e da cultura (do
ser-em-si, do Dasein) toma a forma
falaciosa da existência medíocre, do ridículo, do acéfalo. É quando o nível de
respeito próprio desce de tal maneira que a intimidade constitucionalmente
protegida torna-se comercializável e a existência humana resume-se a isto: 15
minutos de fama. É o que chamo de “venalidade da dignidade”.
O leitor há de objetar, por certo, que há (ou houve, não sei)
participantes de indiscutível nível intelectual. A isso respondo com uma
obviedade: se existiram tais participantes (confesso que, nas vezes em que,
deprimido, compus a audiência do programa, não os percebi), decerto foram convidados
porque a fauna do zoológico humano necessita de diversidade para aumentar a
diversão. É dessa discrepância de formações que surge o entretenimento
contemplativo. O telespectador é levado a crer que todos, independentemente da
formação cultural ou do nível de estudo, são vendáveis; passíveis de expor sua
intimidade em graus elevadíssimos de excitação, enaltecendo valores típicos da
sociedade hedonista em que vivemos: sexo a qualquer custo, dinheiro a qualquer
preço, glamour minuto a minuto.
O que chamo de “terapia dos corpos sarados, comportamentos patéticos e
cabeças vazias” é justamente isto: o vazio atroz dos seres humanos, condenados
à insignificância existencial, com um Dasein
imerso na impessoalidade voluptuária do cotidiano, incapazes de compreender
suas possibilidades próprias e compensar minimamente o dano ambiental que suas
existências produzem com algo útil para seus concidadãos. É a ética da
efemeridade, no que tudo se torna passageiro, tudo é frívolo, tudo é vão. Só
interessa o momento, o prêmio, a fama. Não há sentido numa existência anônima,
porquanto é preferível ser lembrado como “ex-bbb” a não ser lembrado. Neste
mundo em que vivemos, não há longo prazo. Não há confiança, não há lealdade.
Há, isto sim, o culto à beleza inculta e à extroversão fabricada. São os heróis
da mediocridade humana.
Submetido o reality show a esse
raciocínio filosófico, posso até considerar o BBB socialmente útil: qualquer pessoa que intuicione, com
Heidegger, a existência de uma dimensão fundamental e fundante de nós mesmos e
da realidade de nosso ser-no-mundo, e venha a perguntar-se “qual é minha
obra?”, em se sentindo deprimido diante da resposta (ou da falta dela ou,
ainda, do temor de nunca a alcançar!), encontrará no reality show um bálsamo: “Sim, existem pessoas mais medíocres do
que eu!” E mesmo a angústia heideggeriana do “nada” pode ser positiva, pois
“Quando se pode sentir o ‘nada’, todas as opções se apresentam e todos os
horizontes são possíveis.” (CORTELLA, 2007, p. 14).
No fundo, a terapia dos corpos sarados, comportamentos patéticos e das
cabeças vazias que proponho, à luz do exemplo crítico trazido pelo BBB, funciona como um escudo protetor da
angústia heideggeriana. É o tratamento que resgata a autoestima de todo aquele que se sente angustiado
a dar um sentido duradouro à sua vida, atravessando os umbrais da convivência
cotidiana irrefletida, que obstaculizam o seu poder-ser-próprio, o desvelar das
possibilidades multifárias do seu Dasein.
Mesmo que esse desejo de ser-em-si vá de encontro ao capitalismo em rede, à
organização flexível do tempo de trabalho, à ética da efemeridade, enfim, a
tudo aquilo que conspira para que o mundo onde não haja longos prazos seja
também um mundo onde não valha a pena viver, é preciso transcender a existência
inautêntica, agarrando, com temeridade, o desafio de ser-senhor-de-si, e não apenas
ser-no-mundo. O poder de ser-o-que-se-é.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Washington. Cabeças vazias, corpos
sarados e comportamentos patéticos. Observatório
da Imprensa. São Paulo, 18 jan. 2012. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/cabecas_vazias_corpos_sarados_e_comportamentos_pateticos.
Acesso em: 08 abr. 2012.
AZEREDO, Márcio de. O BBB e os tribunais
da ética. Observatório da Imprensa. São
Paulo, 17 jan. 2012. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed677_o_bbb_e_os_tribunais_da_etica
em_2011. Acesso em: 08 abr. 2012.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Martin Heidegger
- Vida e Obra. In: HEIDEGGER, Martin. Conferências e Escritos Filosóficos.
Trad. e notas: Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 2005, prefácio.
(Coleção Os Pensadores).
CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é tua obra?: inquietações
propositivas sobre gestão, liderança e ética. 6º ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo: Parte I. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback.
15ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
KAUFFMANN, Arthur. Rechtsphilosophie, Rechtstheorie, Rechtsdogmatik. In: KAUFFMANN, Arthur; HASSEMER, Winfried (Hrsg.). Einführung in Rechtsphilosophie und Rechtstheorie der Gegenwart. Heidelberg: C. F. Müller Juristischer Verlag, 1994, p. 16. Traduzo: "Ao tomar consciência dessas situações-limite, ao perceber sua fraqueza e impotência, como já dizia Epiteto, o homem é impelido a assumir uma posição, a perguntar sobre o sentido da existência humana. Tudo depende de como o homem lida com essas situações-limite. Ele pode fechar os olhos, fingir que não existem e, então, num dia qualquer, deixar-se efetivamente dominar por elas."
SENNETT, Richard. A Corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no
novo capitalismo. Tradução de Marcos Santarrita. 14ª ed. Rio de Janeiro: Record,
2009.
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