Minha vida de leitor começou, ainda criança, por
meio da leitura de histórias em quadrinhos. Eu comprava os gibis na banca de
revistas defronte ao colégio, onde estudava. Não foram poucas as vezes em que
passei fome no recreio, já que desviava o dinheiro do lanche para comprar gibis
na saída da escola.
Minha revista favorita de equipe de super-heróis sempre foi
"X-Men". Naquelas páginas, aprendi o quão cruel pode ser o
preconceito e a tentativa de homogeneização da sociedade. A meu sentir, os
X-Men sempre foram um grupo de esquerda, a lutar pela diversidade no seio duma
sociedade que os odiava. Contra os pregadores do discurso da "família tradicional
humana com deus e sem mutantes", a equipe liderada por Charles Xavier respondia com uma ode à tolerância e ao pluralismo político. Os mutantes a funcionar qual uma metáfora
brilhante para os grupos numeráveis da sociedade: discriminados pela
ignorância, perseguidos por discursos políticos conservadores de ódio,
menoscabados por aqueles que veem o diferente como uma ameaça a ser
exterminada. O discurso do ódio a nostalgizar os corações daqueles que ressentem a passagem do tempo em que era possível escarnecer à vontade das outras pessoas,
tecer comentários desumanos e colocar tudo sob o "guarda-chuva" da
piada. Um tipo de pensamento encontrável amiúde nas redes sociais, facilmente percebido nas máximas
"O mundo tá ficando chato" e - o pináculo patético - "Menos
mimimi, mais hahaha". Quem reproduz esses lugares-comuns do pensamento conservador parece não se aperceber de que o desrespeito pilhérico não contribui em nada para a diversidade. Antes o contrário: aprofunda o status quo ignominioso do preconceito em que ainda - infelizmente - encontramo-nos a viver.
Por todos esses motivos, é com grande emoção
que tenho visto as fotos de sessões de exibição do filme "Pantera
Negra" nos cinemas ao redor do mundo. E, posto que hoje, já adulto, meu grupo de super-heróis favorito sejam os Homens-Minuto, dada minha funda admiração pelo trabalho narrativo extraordinário do inglês Alan Moore na magnum opus "Watchmen", não pude deixar de recordar das lições sobre tolerância, respeito à diversidade e combate ao preconceito que aprendi, inda criança, a ler os gibis dos X-Men.
No universo Marvel, o Pantera Negra não é um
X-men. Mas, a considerar que seu arquétipo de herói tem inspirado vivas
manifestações de respeito à diversidade política e cultural em vários lugares pelo mundo, bem que poderia
ser. Num cenário assustador de ódio e fascismo crescentes neste primeiro quartel do século XXI, mais do que nunca, estamos a necessitar de super-heróis como o Pantera Negra e os X-Men. Unidos contra o preconceito, a lutar pela diversidade e a tolerância.
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