domingo, 26 de novembro de 2017

MÚSICAS RECOMENDADAS: Sabine Devieilhe interpreta a "Ária dos Sinos" (Air des clochettes / Bell Song) da ópera Lakmé (1883), de Léo Delibes (1839-1891)



Neste final de ano, tive um sobressalto com a audição de "Mirages", álbum da cantora francesa Sabine Devieilhe. O disco, que me foi indicado por um amigo europeu cultor da arte erudita, tem obtido grande êxito radiofônico e de crítica no Velho Continente. E, dada a qualidade do registro sonoro associada ao repertório primoroso de árias francesas, não é sem razão.

Admito que, ressalvado seu trabalho na interpretação de peças do classicismo mozartiano, conhecia muito pouco da discografia de Sabine Devieilhe. Porém, após a ouvida atenta de “Mirages”, enlevei-me pela beleza invulgar da voz dessa soprano, comparável à de uma Natalie Dessay (e isso é um elogio imenso!).

Para o leitor do blogue Metamorfose do Mal que deseja conhecer a artista, segue um vídeo disponibilizado no sítio Youtube pela gravadora Warner Classics, a apresentar um trecho da gravação em estúdio de “Ária dos Sinos”, extraída da ópera "Lakmé" (1883), de Léo Delibes (1839-1891), uma das faixas mais encantadoras no repertório do álbum "Mirages".

Que técnica vocal esplêndida!

Que soprano coloratura maravilhosa!

Mal posso esperar para vê-la em concerto na Europa!

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

MÚSICAS RECOMENDADAS: Dmitri Hvorostovsky canta "Olhos Negros" (folclore russo)


Um dos meus cantores favoritos é o russo Dmitri Hvorostovsky. Como sói acontecer com os artistas mundialmente renomeados da música erudita, ele é praticamente desconhecido no Brasil. Apesar disso, é uma das principais vozes do circuito operístico europeu, sempre a entregar belas interpretações em seus papéis no teatro. 
A aparência eslávica oriental imponente contribui, de modo decisivo, para o êxito artístico de Hvorostovsky. Digo-o, pois, quem tiver a oportunidade de vê-lo de perto numa de suas apresentações, perceberá que ele tem a aparência dum lutador peso-pesado de MMA. Tal compleição física avulta inda mais proeminente frente aos cantores gordotes com os quais ele se põe a contracenar nas óperas, já que não é comum ver um sujeito alto e musculoso cantar como ele canta.   
Por falar em canto, diferentemente da música popular, meio no qual beleza põe a mesa, na música erudita só a boa aparência não basta. Um artista sem talento não sobrevive. Nesse ponto, Hvorostovsky não falha: sua voz é seu instrumento magnânimo no palco. Com uma impostação técnica precisa, ouvi-lo cantar é assustador: qual barítono, ele tem uma potência vocal verdadeiramente impressionadora.    


O poeta russo-ucraniano Yevhen Hrebinka (1812-1848), autor da letra de "Olhos Negros".

A fim de demonstrar o talento de Hvorostovsky, separei para o leitor do blogue Metamorfose do Mal um registro em vídeo duma apresentação realizada em 2004 na sala de concerto do respeitadíssimo Conservatório de Moscou. Nela, pode-se observar o afamado barítono russo a interpretar "Olhos Negros". 
"Olhos Negros" (em russo: "Очи чёрные", "Ochi chyornye") é uma canção celebérrima do folclore da Rússia e cuja letra foi escrita pelo poeta russo-ucraniano Yevhen Hrebinka. Trata-se duma composição romântica, que logrou tornar-se bastante popular no começo do século XX, graças a Feodor Chaliapin (1873-1938) - o grande barítono russo, dono duma exitosa carreira internacional nas principais casas de ópera europeias.
"Olhos Negros" é uma canção pulcra, idônea a sintetizar, como nenhuma outra, a "alma russa". O pungimento do eu-lírico está a acentuar-se ainda mais na voz magnificentíssima de Hvorostovsky – indiscutivelmente, um dos maiores cantores em atividade no planeta.

"Очи чёрные"                                         "Ochi chornyye"
Очи чёрные, очи страстные,                   Ochi chornyye, ochi strastnyye,                                    
Очи жгучие и прекрасные!                      Ochi zhguchiye i prekrasnyye!
Как люблю я вас, как боюсь я вас!          Kak lyublyu ya vas, kak boyus' ya vas!
Знать, увидел вас я в недобрый час!        Znat' uvidel vas ya v nedobryi chas!

Ох, недаром вы глубины темней!            Okh nedarom vy glubiny temnei!
Вижу траур в вас по душе моей,              Vizhu traur v vas po dushe moyei,
Вижу пламя в вас я победное:                  Vizhu plamya v vas ya pobednoye:
Сожжено на нём сердце бедное.              Sozhzheno na nyom serdtse bednoye.

Но не грустен я, не печален я,                 No ne grusten ya, ne pechalen ya,
Утешительна мне судьба моя:                  Uteshitel'na mne sud'ba moya:
Всё, что лучшего в жизни Бог дал нам,   Vsyo chto luchshevo v zhizni Bog dal nam,
В жертву отдал я огневым глазам!            V zhertvu otdal ya ognevym glazam!


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

CRESTOMATIA POÉTICA ERUDITA: "Trova do vento que passa", de Manuel Alegre (1936-), poeta português


ANALECTO DO INTELECTO: Carlo Rovelli (1956-), físico italiano


MÚSICAS RECOMENDADAS: "Um réquiem alemão sobre palavras da Santa Escritura" (Op. 45), de Johannes Brahms (1833-1897)

O compositor alemão Johannes Brahms por volta dos 30 anos,
idade em que começou a escrever o seu réquiem, inspirado pela morte da mãe.

Neste feriado do Dia de Finados, estou a ouvir a obra "Ein deutsches Requiem, nach Worten der heiligen Schrift" (ou simplesmente "Ein deutsches Requiem”, Op. 45), do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897).  

Trata-se de um réquiem – a forma musical da missa fúnebre. Inspirado pela morte de sua mãe, Brahms, tomado de assalto pelo espírito lutuoso, compôs os sete movimentos dessa partitura no período que vai de 1865 a 1868. Protestante, fê-lo a musicar excertos da tradução da Bíblia feita por Martinho Lutero, razão pela qual seu réquiem é cantado em alemão, e não em latim - como sói acontecer na tradução erudita católica. A sublimar ainda mais a grandeza da sua obra, além do coro sinfônico, Brahms incluiu um solo de soprano e outro de barítono.

A lobreguidão magnânima desse réquiem posiciona-o qual uma das composições mais relevantes de todo o Romantismo na história universal da música. Sobretudo pela maneira imponente com que o compositor tudesco emprega o canto coral na composição longa, aprecio muitíssimo essa obra. Indiscutivelmente, a lugubridade da sua melodia está a falar diretamente ao coração.

No registro abaixo, temos a interpretação de "Um Réquiem Alemão" de Brahms pela Filarmônica de Berlim, sob a regência do maestro italiano Claudio Abbado. Gravada em 1997 na Musikverein - a mais famosa sala de concerto de toda a Europa e "lar" da Filarmônica de  Viena, a apresentação esteve a homenagear o centenário do passamento de Johannes Brahms, que morreu em 1897 na capital austríaca.